receitas que aprendi a fazer e a gostar na cozinha de minha mãe - uma homenagem a ti minha mãe!
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publicado por mena às 21:01
05
Jul
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Falar da mãe não é difícil, para quem a conheceu, para quem não teve essa sorte aqui fica um pouquinho dela.
 
 
 
Maria da Conceição Nunes dos Santos, nascida a 10 de Dezembro de 1945. A terceira de quatro filhos. Filha da Avó Maria Sabina e do avô José dos Santos, como ficaram conhecidos.
    Contava ela, que começou a trabalhar novinha, com 9 anos já cozia pão, e imagino o que mais faria ela com esta idade, cozinhava, bordava… sempre foi muito despachada, e, segundo sei, não tinha tamanho de gente, para pôr o pão no forno era de cima de uma razoura.
    Namorou-se novinha também, mas não teve sorte de gozar esse namoro. Na altura, trava-se a guerra colonial e meu pai Luís Brasil , que era o seu namorado, teve que ir para a Guiné combater. Diz ela que namoraram poucos dias, e ele embarcou! Esteve lá dois anos e meio, e só se falavam por carta, de vez em quando. Passado esse tempo, o meu pai pediu-lhe a mão em casamento, quando ele chegou fizeram o pedido e em breve casavam.
    Casaram para casa de minha avó, mãe de meu pai. Chamava – se Maria Luísa e já era viúva desde quando o meu pai ainda estava na guerra, meu avô João esteve muitos anos doente e de cama. Para ela não ficar sozinha, ela ficou a viver com eles. Em breve a minha mãe teria filhos. Mas ainda antes de Luís nascer, que é o mais velho, ela teve outras duas gravidezes que não correram bem. Se não hoje teria mais dois irmãos. Depois nasceu a Luísa, a Susana, o Roberto e eu. A vida de meus pais não foi fácil. Muitos filhos para cuidar, meu pai trabalhava na lavoura e era daí que vinha o nosso sustento, embora minha mãe, esperta da maneira que era, arranjava sempre maneira de o ajudar: vendia pão que cozia, bananas, ovos, bordava, fazia colchas e muitas outras coisas de costura. Como tínhamos muita coisa de casa, as hortaliças, a carne de vaca e de porco, os ovos e a carne de galinha, coziam o pão em casa, poupava-se muito nessas coisas que hoje a gente tem de comprar.
    Os meus pais herdaram terras dos seus pais, tal como eles nos deixaram e como nós um dia vamos deixar aos nossos filhos. Mas eles também compraram mais terras, para poderem ter uma lavoura maior e fazer mais dinheiro. Trabalharam muito para as pagar. Lembro da minha mãe contar que quando compraram as terras da eira ficaram sem um escudo em casa. Eram tempos difíceis, mas minha mãe dizia sempre: “ melhor tempo é sempre aquele que passa”.
    Meu pai morreu muito novo, tinha apenas 53 anos, deixava dois filhos casados, uma nas vésperas do casamento e duas crianças: o roberto com 15 anos e eu com 10. Foi um choque para toda a gente. Ele acordou bem e de repente sentiu-se mal do coração e não durou nem sequer um dia. Minha mãe ficou sozinha e acredito que foi buscar forças aonde nunca imaginou que as tivesse para superar o peso do mundo em cima dos seus ombros!
    Nesta altura já minha avó materna vivia em nossa casa. A avó Luísa já tinha morrido. A avó sabina, como era conhecida, viveu na nossa casa alguns anos, depois que o marido morreu. Esta é a minha avó de quem me lembro melhor. Era muito nossa amiga, ajudava a minha mãe no que podia, embora não pudesse muito porque a queda que deu e que a fez partir os dois braços deixou-a muito frágil nos seus movimentos, sem ter em conta que ela era uma pessoa para cento e tal quilos. Para que a desgraça da morte de meu pai não viesse só, passado um ano da sua morte morre minha avó! Foi outro duro golpe para minha mãe, ela tinha sido após a morte de meu pai, o suporte, o conforto que um filho procura sempre nos braços de uma mãe. Minha mãe dizia isto muitas vezes: “Quando meu pai morreu eu tive muita pena mas vim para minha casa, com o meu marido e os meus filhos, tinha a minha casa cheia. Agora, a morte de minha mãe foi pior porque fiquei com ela vazia!”
    Não havia muito que se pudesse fazer… Deus, dizem, escreve direito por linhas tortas… linhas essas que nos custam muito a ler!
    Uma coisa tenho que dizer, minha mãe não ficou sozinha, meus tios ajudaram sempre, estiveram sempre que ela precisou e os chamou. Nunca nos abandonaram, especialmente e minha tia Maria, meu tio António e meu tio João, e também minha tia Bernardete até ao dia em que foi chamada a fazer companhia a meus avós e meu pai.
    Cuidar de uma casa, filhos, trabalhar, muito, não é fácil… sabemos bem disso e temos os nossos maridos a apoiar-nos… e quem já não tem? É ainda mais difícil. Éramos adolescentes, meu irmão mais rebelde, mais problemático, mas eu tenho noção que também fui uma preocupação para minha mãe. Eu fazia por não ser, sou sincera! Não era exigente com o que vestia, nem sequer para sair, como já era hábito as raparigas da minha idade fazerem, era boa aluna. Eu tinha consciência de que minha mãe precisava de ajuda e não de mais trabalho. Fazia o que podia mas sou humana. E sei que desde o dia em que me namorei passei a ser mais uma preocupação para ela. Ás vezes sinto por isso, mas está provado que era o meu destino, e que não havia outra forma de se fazer as coisas.
    Durante todos estes anos, minha mãe trabalhou muito para criar e educar os seus filhos, e com certeza que faltou-lhe muita coisa mas uma delas não faltou de certeza: a saúde. Até um dia. Aquilo com que Deus sempre a abençoara estava agora a faltar-lhe de dia para dia. E esse foi outro choque. O Cancro. A descoberta da doença, a operação, as sessões de quimioterapia, o sucessivo emagrecimento, a falta de apetite, as dores foram enfraquecendo-a a cada dia. E a notícia de que era um cancro sem solução foi para nós uma pancada muito forte!
    Não resistiu a este maldito cancro que tão depressa apareceu, como depressa a levou do pé de nós. No dia 6 de Março de 2003. Ficou a dor que com o tempo foi transformando-se em saudade que persiste.
    Mas a recordação que sempre ficará na nossa memória é a da mulher forte, alegre, trabalhadora, amiga do seu amigo que minha mãe sempre foi. Mãe dedicada, avó sempre presente, esposa e mulher perfeita, filha de que qualquer mãe se pode orgulhar.
 Fica no ouvido a gaitada que nos lembra o seu bom humor apesar das injúrias da vida. Fica na memória o seu sorriso com que sempre nos acolheu, mesmo nos dias de maior dor. Fica no coração o amor que sempre nos deu acima de tudo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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